Autores e editoras independentes estarão, em breve, no acervo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais. Com investimento total de R$ 30 mil, os livros serão adquiridos a partir do encontro “Meu Negócio é Literatura”, que ocorre neste sábado (14/9), durante a Expo Favela 2024. Integrando o programa Minas Literária, a iniciativa do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG), em parceria com o Sebrae Minas, tem como objetivo impulsionar toda a cadeia de produção do livro.
A escritora e antropóloga Dalva Maria Soares, uma das selecionadas para apresentar sua obra no encontro de negócios, tem certeza de que essa meta será alcançada. “Essa ação impacta não só o autor, mas a própria editora, diagramadores, revisores, capistas. Se o objeto livro circula mais, junto vão esses profissionais que trabalharam na confecção do livro. É uma iniciativa importante porque vai impactar em cadeia”, avalia a autora de “Para diminuir a febre de sentir”, “Do menino” e “Me ajuda a olhar!”, todos lançados pela editora independente Venas Abiertas. “Estou muito feliz em ter sido selecionada. É mais um tijolinho na construção desse rolê que é ser autora independente”, ela acrescenta.
Com 58 anos e escritora desde 2014, Dalva é um dos 20 nomes da literatura independente de Minas que vão expor títulos na sede do Sebrae Minas, parceiro do programa Minas Literária, com o projeto “Meu Negócio é Literatura”. A apresentação rápida, de cinco minutos para autores e dez para editoras, será feita para uma banca composta por servidores da biblioteca e membros da Associação de Amigos da Biblioteca Pública Estadual, instituição que propôs o projeto patrocinado pela Cemig, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. O evento conta com apoio da plataforma de fomento e cultivo à literatura independente IBI Literário e é realizado em conjunto com o Instituto Periférico, que correaliza toda a programação da Biblioteca Estadual na Expo Favela 2024.
Quem acompanha a mineira de Baldim na lista de autores selecionados é João Paulo Xavier, de 36 anos. Linguista e sociólogo por formação, o professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) faz do humor uma ferramenta para abordar questões sociais profundas de forma leve no livro “O Homem de Calcinha”, que será defendido neste sábado.
Para ele, a inscrição no “Meu Negócio é Literatura” vem de um lugar pessoal. João Paulo é filho de uma ex-camelô que vendia cachorro-quente na Praça da Liberdade, e frequentava a Biblioteca Pública quando estudava no Estadual Central, a poucos quarteirões da instituição. “Hoje sou professor. Ter a chance de ser um dos autores no acervo da Biblioteca Pública é a concretização de vários sonhos e planos que tenho para minha carreira. O pitch me oferece essa oportunidade, e a Expo Favela é um ambiente que faz parte da minha essência, dado o meu passado nas ruas, trabalhando com minha mãe dos 6 aos 19 anos”, conta.
“O ‘Meu Negócio é Literatura’ vem para atender a uma demanda da cadeia produtiva do livro de Minas Gerais. O projeto diversifica a produção literária no estado, fomentando a geração de emprego e renda na economia da criatividade, que é o grande objetivo do programa Minas Criativa”, destaca a subsecretária de Cultura de Minas Gerais, Nathalia Larsen.
Para o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza Silva, a iniciativa é oportunidade única para que autores e editores das periferias apresentem seus projetos e consigam vender obras. “Sabemos que o mercado editorial vem sofrendo mudanças nos últimos anos devido à democratização do acesso à informação e ao avanço tecnológico. É fundamental que nossos escritores tenham apoio e capacitações para estimular o empreendedorismo criativo”, declara o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza Silva.
Seleção e aquisição dos livros
Os autores e editoras independentes vão apresentar suas obras no auditório três da sede do Sebrae Minas, em Belo Horizonte, das 9h às 15h30. “As obras serão avaliadas a partir de critérios como qualidade da apresentação e confecção do livro físico, no sentido da qualidade gráfica do material. Mas o principal critério de seleção é o da descentralização cultural. Queremos fazer a aquisição de acervo desses escritores em início de trajetória ou com trajetória periférica, privilegiando sempre quem mora mais afastado dos grandes centros urbanos”, esclarece o diretor do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Lucas Amorim.
Após avaliação pela banca examinadora, dez escritores serão contemplados com a aquisição dos livros, no valor de R$ 1 mil cada, podendo os títulos serem diversificados ou não. Já para as editoras, serão cinco escolhidas. Os montantes variam de R$ 2 mil a R$ 6 mil, de acordo com a classificação que receberem da apresentação. Os resultados serão anunciados no palco principal, às 16h30.
Depois da compra
Os livros chegarão à Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais em sua principal coleção: a Mineiriana. É lá que ficam as obras de nomes como Carlos Drummond, Carla Madeira e Ailton Krenak, renomados autores mineiros ou cujo título aborda a memória de Minas Gerais ou de seus municípios. Depois o acervo circula por diversos setores, até chegar no empréstimo. Uma vez no setor, todos os livros sobressalentes vão para o sistema estadual de bibliotecas públicas e comunitárias.
Com mais de 800 bibliotecas espalhadas pelo estado, Minas Gerais possui o maior sistema de bibliotecas do país, coordenado pela Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, cuja sede fica na Biblioteca Pública da Praça da Liberdade. Além das assessorias técnicas, atividades formativas, palestras e declarações de acervos culturais, a unidade de referência oferece doação de kits de livros aos municípios, o que poderá ajudar a ampliar ainda mais as vozes dos autores independentes.