Quando o cineasta Glauber Rocha proferiu a célebre frase “uma câmera na mão, uma ideia na cabeça” nos anos 1960, ele vislumbrava o impacto revolucionário do Cinema Novo no Brasil.
Mal sabia ele que, décadas depois, a tecnologia dos smartphones democratizaria ainda mais a produção audiovisual, tornando-a mais acessível. Hoje, com um smartphone na mão, estudantes podem criar, editar e compartilhar conteúdos de forma inovadora e eficaz.
Neste cenário, as produções audiovisuais têm se tornado cada vez mais comuns nas escolas da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG), utilizando a arte como uma estratégia complementar no processo de ensino e aprendizagem.
Estudantes de escolas estaduais em Belo Horizonte, Nova Porteirinha e Ipatinga estão transformando suas realidades e criando conteúdos audiovisuais com recursos limitados, mas de certa forma semelhante ao movimento do Cinema Novo.
Através das ações desenvolvidas no componente curricular Projeto de Vida e outras iniciativas escolares, a produção audiovisual está promovendo aprendizado, conscientização, socialização e entretenimento para esses estudantes, explica a subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica, Kellen Senra.
“Os projetos focados no audiovisual são extremamente valiosos pois, além de estarem alinhados com o Currículo Referência de Minas Gerais, ajudam no desenvolvimento das capacidades de expressão dos estudantes. A pesquisa envolvida também enriquece a formação dos estudantes”, afirma Kellen Senra.
Destaque na Mostra de Cinema de Ouro Preto
Na 19ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto, um curta-metragem produzido por estudantes da Escola Estadual Manoel Izídio, em Ipatinga, ganhou destaque. A obra, que explora questões ambientais com criatividade e sensibilidade, contrasta a urbanização de Ipatinga com a natureza, e incita reflexões sobre sustentabilidade.
Lançado no final de 2023, o filme foi criado durante a Oficina de Cinema, Meio Ambiente e Mídia Móvel, liderada pelo cineasta Gustavo Jardim e supervisionada pela professora Flávia Cândida Pinho.
Reflexão sobre bullying
Na Escola Estadual João Câmara, em Belo Horizonte, os estudantes aprenderam fundamentos audiovisuais e criaram o filme “Sem Brava! É o Karma”, que aborda o bullying e transmite uma mensagem de empatia e busca por ajuda.
A iniciativa encerrou a Salinha de Cinema, do Projeto Manutenção Noite de Cinema, e contou com um evento aberto à comunidade escolar.
O filme traz uma reflexão sobre o bullying, tema frequentemente discutido nas escolas da rede. A mensagem central é a importância de buscar apoio de responsáveis e colegas em situações de bullying, demonstrando que, com informação e empatia, é possível superar essa prática.
“O projeto me ajudou a superar minha timidez e a me soltar mais”, afirma Beatriz Luiza dos Santos, de 13 anos, que interpretou a amiga da personagem principal.
Durante os oito meses do projeto, os estudantes, com o suporte técnico do Cine Teatro Popular e a orientação dos servidores da escola, aprenderam desde a elaboração do roteiro até a produção completa do filme.
Além das técnicas audiovisuais, tiveram uma imersão na história da região de Venda Nova, incluindo visitas ao Parque Serra Verde e ao Centro Cultural de Venda Nova.
Quadrilha que virou curta-metragem
Na Escola Estadual Erezinha Antunes Martins, em Nova Porteirinha, a tradicional festividade julina inspirou o curta-metragem “Sertão em Alvoroço”.
A professora Aline Esteves aproveitou a festa típica para desenvolver um projeto audiovisual envolvente. “A proposta foi explorar a tradição das festas caipiras com atividades de música, dança e teatro, resultando em um curta divertido e de alta qualidade”, destaca.
A escola planeja exibir o filme em breve na praça principal da cidade, o mesmo local onde os estudantes se apresentaram com a quadrilha.