O Carnaval de Belo Horizonte ficou ainda mais sustentável e rentável em 2024 com a participação dos catadores do ReciclaBelô, programa de reciclagem popular do Carnaval de BH de iniciativa de cooperativas de catadores de materiais recicláveis, lançado neste ano com o apoio do Governo de Minas e do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Durante os quatro dias de folia, foram quase 30 toneladas de materiais recicláveis coletados pelos trabalhadores, que foram remunerados pelos serviços ambientais prestados.
Ao todo, 240 catadores foram atendidos nas três centrais de reciclagem disponíveis em diferentes regiões de Belo Horizonte, como Centro, Savassi e Santa Tereza. Foram apurados 29.726,2 kg de materiais coletados em cerca de 130 blocos espalhados pela capital mineira. Somente na triagem montada no Centro, foram entregues 11.151 kg, enquanto o ponto montado na Savassi recebeu 9.339 kg, número quase semelhante ao registrado no Bairro Santa Tereza, que apurou 9.236 kg de recicláveis.
Além de servirem como ponto de apoio logístico para a coleta, as centrais foram referência para distribuição de equipamentos de proteção individual (EPIs) aos trabalhadores e alimentação, além de acesso exclusivo a banheiros e energia elétrica. Os profissionais também receberam blusa, protetor solar com repelente, capa de chuva, tênis, chapéu e mochila-saco para armazenamento dos pertences.
“Essa parceria nos ajudou demais, dando condições dignas de trabalho e visibilidade. Tivemos uniforme, EPIs, alimentação e água para todos os catadores, fazendo com que o nosso trabalho fosse realizado com mais dignidade, além de gerar uma renda, que é fundamental para a nossa sobrevivência. Foi muito satisfatório e emocionante”, ressaltou Neli Medeiros, representante do Movimento Nacional dos Catadores.
O material recolhido pelos catadores foi encaminhado a galpões de triagem das cooperativas que são referência, onde serão prensados e armazenados para comercialização junto a indústrias de reciclagem.
“Como previsto, os catadores tiveram participação fundamental no processo de limpeza da cidade. Com o ReciclaBelô, foi garantida a destinação apropriada dos materiais recicláveis e foi gerada, também, uma atividade econômica e social”, enfatizou a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Marília Melo.
Geração de renda
Os trabalhadores que participaram do ReciclaBelô receberam uma diária de R$ 150 pelos serviços ambientais prestados, além da quantia referente ao material recolhido. Ao todo, foram repassados mais de R$ 110 mil entre diárias de serviço e remuneração, o que equivale a uma média de cerca de R$ 466 pagos aos 240 participantes do projeto.
Somente aos catadores que deixaram o material reciclável na central de triagem do Centro, foi paga a quantia de R$ 36.750, seguido pela central da Savassi, que registrou a marca de R$ 29.700 em transferências. Já a central localizada em Santa Tereza repassou R$ 27.300 aos trabalhadores que atuaram no local, totalizando R$ 93.750.
A remuneração por serviços ambientais, que foi paga de forma proporcional à produção dos catadores durante os quatro dias de folia em BH, chegou a R$ 18.575,31.
“Tivemos momentos de catadores chorando quando recebiam o recurso da diária de trabalho e o complemento pela produção e prestação de serviço, porque eles nunca receberam pelo serviço que eles prestam à cidade”, relatou Neli Medeiros.
Reconhecimento e sustentabilidade
Os catadores de materiais recicláveis de Belo Horizonte já promoveram a reciclagem no Carnaval da cidade em outros anos, porém, de forma autônoma, sem apoio financeiro e institucional. O ReciclaBelô, portanto, é a representação do reconhecimento da importância dos profissionais ao meio ambiente.
Latinhas e plásticos, por exemplo, sem a atividade dos catadores, iriam para lixões e aterros sanitários. Dessa vez, com o importante trabalho dos profissionais, os materiais terão uma duração maior e se transformaram em renda.
“É importante salientar que foi uma iniciativa dos próprios catadores, trazendo essa percepção do que era necessário adequar para a realidade do trabalho deles no dia a dia. Sendo assim, o ReciclaBelô foi uma experiência bem positiva, no sentido que ele trouxe mais dignidade para o trabalho dos catadores, trazendo uma remuneração mais adequada em relação não só ao que eles comercializaram em termos de material recolhido, mas pelo serviço que eles prestam”, destacou a superintendente de Resíduos da Semad, Alice Libânia.
O ReciclaBelô
O ReciclaBelô foi idealizado por lideranças de catadores em BH e pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O programa recebeu financiamento de R$ 592 mil por meio da Plataforma Semente, do MPMG, que gerencia recursos de Medidas Compensatórias Ambientais. Essa plataforma recebe propostas socioambientais de instituições do terceiro setor, empresas privadas e do poder público. A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) também investiu R$ 282 mil no ReciclaBelô, ampliando o alcance da iniciativa.