Uma estatística que deve chamar a atenção da população para a necessidade de prevenção e respeito às regras de trânsito: o número de casos de atendimentos a motociclistas envolvidos em acidentes continua apresentando índices expressivos no Hospital João XXIII (HJXIII), unidade do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência (Chue) da Rede Fhemig, referência na assistência aos pacientes com traumas graves. Em 2023, foram registrados 5.707 casos, um aumento de 21% em relação a 2022 (4.715).
Terceiro maior motivo de atendimentos no hospital no ano passado, logo após casos clínicos (17.604) e quedas da própria altura (7.944), os acidentes de trânsito que envolvem motos atingem, em sua maioria, jovens do sexo masculino. Victor Ikeda, diretor assistencial do Complexo e cirurgião geral e do trauma do HJXXIII, afirma que não houve mudança nesse perfil, visto que tanto as lesões quanto os pacientes lesionados continuam similares aos atendidos frequentemente na unidade ao longo dos últimos anos.
“A gravidade das lesões está diretamente relacionada com os impactos do trauma. Um acidente de moto pode lesionar um paciente de várias formas, desde escoriações leves até um óbito antes da entrada no hospital. Tudo pode depender da velocidade dos veículos envolvidos, do uso de equipamentos de segurança e do tipo de colisão”, endossa o cirurgião.
Custos individuais e sociais
Conforme o grau de impacto do trauma, as sequelas do acidente também podem variar, quando um paciente não se reabilita totalmente das lesões. “Temos vários tipos de pacientes. Há os que conseguem se recuperar completamente durante o período de internação e os que apresentam sequelas gravíssimas. Estes últimos provavelmente nunca vão se recuperar, principalmente os com traumatismo cranioencefálico grave, que ficam com as funções neurológicas muito comprometidas”, relata Victor.
Além dos riscos para a integridade física e emocional dos pacientes, os custos podem se estender para a inatividade social de pessoas em idade ativa, dependendo dos diagnósticos precedentes – como sequelas neurológicas, pseudoartroses (complicação caracterizada pela ausência da consolidação de uma fratura), osteomielites, amputações, síndromes do estresse pós-traumático, dentre outros.
Para Victor, “ainda é preciso considerar os custos além dos recursos financeiros oferecidos durante o tratamento hospitalar, pois existe a possibilidade de pacientes com sequelas graves serem impedidas de trabalhar pelo resto da vida e terem dificuldades para se readaptarem socialmente”.
Prevenção como melhor caminho
De acordo com um relatório divulgado em 2023 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 392 mil pessoas morreram em acidentes de trânsito na última década, entre 2010 e 2019, no país. Globalmente, aproximadamente 1,35 milhão morrem anualmente, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que também apontam que motociclistas correspondem a um dos principais grupos de pessoas atingidas, em razão da vulnerabilidade por estarem mais expostos às quedas e colisões.
No Brasil e no mundo, os acidentes de trânsito constituem um grave problema de saúde pública que pode ser evitável. A fim de reduzir as mortes e lesões provocadas pelos acidentes com motociclistas, a atenção aos fatores de risco é essencial para evitar as perdas humanas. “A maior parte dos casos está relacionada com o excesso de velocidade, o alcoolismo e a falta do capacete. A prevenção é sempre o melhor caminho para minimizar possíveis traumas e possibilitar que os pacientes retornem reabilitados da internação para suas vidas sociais”, alerta Victor.