Evento de três dias contou com a participação de 40 membros do Núcleo
Entre os dias 02 e 04 de outubro, o Campus Matão do IFSP sediou o VIII Encontro do Neabi (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas) cujo tema foi “Leis 10.639/2003 e 11.645/2008: percursos, balanços e perspectivas”. A atividade contou com a presença de aproximadamente 40 membros, entre servidores e discentes.
Estiveram na abertura do evento, o reitor Silmário Batista dos Santos e o pró-reitor de ensino, Carlos Procópio, os quais ouviram as propostas e as demandas do grupo com relação às ações afirmativas no âmbito institucional. Em seguida, foram apresentados os projetos de pesquisa, ensino e extensão desenvolvidos por membros do Neabi em seus respectivos campi, como, por exemplo, o coletivo Dragões do Mar, apresentado por Rodrigo Umbelino (São Roque); Clube de leitura Ubuntu, coordenado por Valquíria Tenório (Matão); Ivafro, Tenegres e o grupo de pesquisa Gepretas, desenvolvido por Giselly Barros (São Paulo); e os Coletivo Sí, Yo Puedo e PertenSer, coordenados pela Rocio Quispe Yujira (Reitoria), a fim de refletir o que tem sido feito para o cumprimento das Leis 10.639/03 e 11.645/08 na instituição. Ao final do dia, realizou-se a Oficina de Maculelê, ministrada por Victor Hugo, discente do curso de Física (Campus Votuporanga).
Nos dias subsequentes, os membros se dividiram em grupos de trabalho com o objetivo de discutir os principais desafios para a educação quanto às relações étnico-raciais na instituição, assim como para construir estratégias de atuação. Pensando na dimensão do enfrentamento ao racismo no IFSP, o primeiro grupo dedicou-se à construção de um protocolo para as denúncias e a formação de servidores com o intuito de acolhimento desses casos. Outro grupo concentrou-se na elaboração de um plano de ações institucionais baseado no Plano Nacional de Implementação da Lei 10.639/03, que este ano completa 20 anos. Uma terceira dimensão discutida pelo grupo foi a produção de materiais gráficos e campanhas sobre letramento racial, os racismos presentes na sociedade brasileira, entre outros assuntos. Por fim, o último GT trabalhou os dados obtidos pela ação de acolhimento iniciada no 1º semestre de 2023 em aproximadamente 10 campi. Desse modo, foi realizada uma análise das informações coletadas por meio da escuta e aplicação de questionário aos estudantes que participaram das ações, as quais buscavam identificar a percepção destes sobre as relações étnico-raciais na instituição.
O encontro contou com a participação da Alessandra Laurindo (Coordenadora de Políticas Étnico-Raciais na prefeitura de Araraquara) e do Cláudio Claudino membro da OAB – Araraquara, que compartilharam o percurso da produção do livro “A história comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense: as histórias que Rui Barbosa não queimou”, para o qual a pesquisadora e membra do Neabi Valquíria Tenório escreveu um dos prefácios. Os estudos se debruçam sobre o resgate de cinco livros que marcam a compra e a venda de pessoas escravizadas na cidade. Nesse material, há informações sobre preços e compradores envolvidos no comércio de famílias inteiras. O momento foi importante para o grupo, pois o livro mostrou-se um material rico, cujos dados podem alimentar novos estudos, além de possibilitar às pessoas negras recuperar a sua história e ascendência por meio desses registros.
Além disso, os membros participaram do Clube de Leitura Ubuntu, com o livro “Quando me descobri Negra”, de Bianca Santana. A atividade foi conduzida por Valquíria Tenório (Matão) e Danuza Américo (São Roque). Na ocasião, a partir das histórias contadas pela autora no livro, foram compartilhadas experiências e vivências entre os participantes que tornaram o momento acolhedor e potente.
No último dia, os membros foram visitar o Baobá, árvore nativa do continente Africano, conhecida por ter um tronco oco; sua madeira é utilizada para a produção de instrumentos musicais e suas folhas são ricas em vitaminas e proteínas utilizadas em sopas e bebidas. A árvore é um importante símbolo para a comunidade negra porque representa resistência e força. A árvore foi plantada há 4 anos no Campus e está sendo acompanhada pelos docentes Valquíria Tenório e o Engenheiro Agrônomo Felipe Batistella Filho. Tendo como inspiração a história do baobá e as vivências do encontro, foi criado pelo membro Erliandro Félix (Ilha Solteira) o sinal de libras do Neabi–IFSP que em breve será divulgado nas redes sociais.
As discussões e as propostas realizadas pelo grupo serão sistematizadas e apresentadas para a Reitoria, a fim de identificar e solidificar mecanismos para o cumprimento das demandas apresentadas na perspectiva de contribuir para o fortalecimento das ações afirmativas no IFSP.
Veja abaixo o depoimento de duas participantes do evento:
“Participar dos encontros do NEABI é sempre arrebatador, compartilhar nossas experiências e ouvir as dos membros do núcleo nos enche de ideias para novos projetos de ensino, pesquisa e extensão sobre as relações raciais. Além disso, os encontros são um espaço de acolhimento e afetividade entre os membros, um local seguro em que nos sentimos confortáveis para expor as inúmeras vulnerabilidades e juntos pensarmos em caminhos para seguir lutando por uma educação antirracista na instituição. Os encontros do NEABI são essenciais, pois precisamos estarmos aquilombados!” (Giselly Barros, profa. do Campus São Paulo).
“Ter participado do 8º encontro Neabi, pra mim como estudante do Instituto Federal Federal, foi maravilhoso, principalmente por integrar as atividades até o almoço coletivo com os professores/pesquisadores, pesquisadores e servidores das diversas áreas, os quais alguns já acompanho pelas redes e seus trabalhos. Vejo o núcleo, e todo o trabalho que vem sendo desenvolvido nos campus, como um dos movimentos reparatórios à população parda, negra e indígena que estão e podem estar nos institutos. Pra mim, é urgente e necessário”. (Elisa Ferreira Lopes, discente do curso de Especialização Latu Sensu, Pós-Graduação em Educação, Ciência e Tecnologia (Campus São Carlos).