Um fato inusitado chamou a atenção da equipe do programa “HumanizAção”, durante a realização das Barreira Humanitárias, na manhã de segunda-feira (27). Um rapaz, de 29 anos de idade, dependente químico, apresentou-se à equipe da ação instalada na Rodoviária de Sorocaba e, arrependido, entregou 13 porções de cocaína. Mais do que isso, espontaneamente, pediu ajuda para tentar deixar o mundo das drogas.
Agora, ele está aos cuidados do Grupo de Apoio e Combate à Droga e Álcool Santo Antônio (Grasa), entidade parceria da Prefeitura de Sorocaba no atendimento a esse público.
“Chega de sofrimento. Não aguentava mais essa vida. Estava demais na cocaína e não quero mais isso pra mim. Estou com 29 anos e não quero chegar aos 40 desse jeito. Sonho em ter família, casa própria… Fui sincero ao entregar as drogas e deram um voto de confiança a mim”, comentou R.S., que é sorocabano e, nos últimos dois meses, vivia nas ruas. “Aqui, na clínica, estou muito bem. Só de estar aqui não fico pensando em fazer coisa errada”, completou.
O servidor público Jaime Rodrigues Ferreira Júnior, da Secretaria da Cidadania (Secid), faz parte do grupo e foi quem atendeu R.S na Barreira Humanitária na Rodoviária. “Fiquei surpreso com a situação. Por volta das 8h, ele se apresentou, dizendo que queria ir para uma clínica de tratamento. Entregou três porções de drogas e, depois, mais dez. Um fato inédito durante a operação”, contou.
A iniciativa das Barreiras Sanitárias, que está sendo realizada em caráter piloto desde o dia 10 de junho, tem um ponto fixo, na região da Rodoviária, e outros dois de forma itinerante. As abordagens sociais são feitas por equipes especializadas do programa municipal de acolhimento “HumanizAção”, de forma integrada entre as secretarias da Cidadania (Secid), da Saúde (SES), de Segurança Urbana (Sesu) e do Gabinete Central, com o apoio da Secretaria de Serviços Públicos e Obras (Serpo), da Guarda Civil Municipal (GCM) e da Urbes – Trânsito e Transportes.
Como procedimento padrão, o GCM Dênis, que dava apoio à ação, foi acionado para acompanhar o rapaz até a Delegacia Participativa de Polícia (DPP) da Zona Norte, para que fosse providenciado o descarte legal dos entorpecentes. Na ocasião, a delegada de plantão determinou a apreensão das drogas e liberou o jovem, uma vez que ele se apresentou de livre e espontânea vontade e, ainda, manifestou interesse no tratamento. “Foi por Deus, pois poderiam ter me prendido. Estou me sentindo muito grato a todos e privilegiado”, afirmou R.S.
Uma equipe do Grasa foi acionada e, às 14h de segunda-feira (27), R.S. deu entrada na entidade que, atualmente, abriga 25 homens e 10 mulheres, em duas diferentes unidades em Sorocaba. “O pontapé inicial eu já dei. Agora, é me manter bem. Tenho família aqui, na cidade, mas, mesmo quando ia pra casa, não parava por lá. Estou muito bem acolhido aqui e disposto a mudar de vida”, apontou o rapaz.
Segundo a assistente social do Grasa, Telma Cristina Vitor Calixto Pereira, somente o fato de R.S. buscar ajuda e querer o tratamento já é sinal muito positivo. “Em média, o tempo de permanência aqui, no Grasa, é de cinco meses, aproximadamente. Na saída, tentamos articular com a família ou viabilizar outra forma de acolhimento ao assistido, assim como propiciar uma oportunidade de emprego”, explicou.
Balanço preliminar das Barreiras Humanitárias
As Barreiras Humanitárias estão funcionando, com toda a estrutura de atendimento em assistência social e saúde, há pouco mais de dez dias. Além da oferta de serviços essenciais, como alimentação, banho quente, cuidados de higiene, roupas limpas e pernoite, no Serviço de Obras Sociais (SOS), outra instituição parceira da Prefeitura de Sorocaba, também podem ser feitos encaminhamentos nas áreas de saúde, saúde mental e internação para reabilitação de pessoas com dependência química.
Balanço preliminar realizado entre os dias 10 e 20 de junho, na Barreira Humanitária fixa, localizada na Rodoviária, aponta que 168 pessoas foram abordadas. Dessas, 138 pernoitaram no SOS e 65 (cerca de 40%) foram encaminhados para seus respectivos familiares, após contato feito pelas equipes, tanto em Sorocaba, como em outras cidades. Assim como R.S., outras 11 pessoas foram encaminhadas para tratamento da dependência química e 12, para outros tipos de assistência em saúde.
Outro dado que chama atenção é que 71% (119 pessoas) utilizam álcool ou algum tipo de droga ilícita e que 61% (102) das pessoas abordadas não são de Sorocaba, mas de outros municípios ou Estados, das quais 11% (19) são oriundas da cidade de São Paulo. Ficou constatado que 21% (35) estiveram na região da Cracolândia, na capital paulista, ou seja, uma em cada cinco pessoas. Desses, 8% (13) dos entrevistados afirmaram que vieram direto da Cracolândia para Sorocaba.
“Após o início das Barreiras Humanitárias, as equipes notaram a diminuição na quantidade de pessoas em situação de rua, sobretudo, nos arredores da Rodoviária. Ocorreu aumento na sensação de segurança nesse local, segundo informado por pedestres que transitam por ali. Isso, graças às ações que têm enfoque, tanto no ponto de vista social e de saúde, quanto no de segurança”, comentou o secretário do Gabinete Central da Prefeitura de Sorocaba, João Alberto Corrêa Maia.
Houve, também, na Avenida Dom Aguirre, operação de fiscalização em que 24 veículos, do tipo van, foram abordados e 71 pessoas entrevistadas. “Em uma das Barreiras Humanitárias, identificamos uma van suspeita e, durante a abordagem, verificou-se que havia 16 pessoas vindas de São Paulo, onde o motorista informou que foi contratado para esse fim, mas se recusou a informar quem foi o responsável pelo transporte. O caso está sendo apurado”, apontou o secretário do Gabinete Central.
“As Barreiras Humanitárias têm sido importantes como medida preventiva, para identificar esse público mais vulnerável, muitas vezes vindo de outras cidades. Dessa maneira, queremos evitar que dependentes químicos vivam na marginalidade. Oferecemos toda a devida atenção e assistência necessária às pessoas em situação de rua”, complementou o secretário da Secid, Clayton Lustosa.