Marques Rebelo, em discurso conciso, como de seu estilo, fez o perfil do novo biografado. Lembrou o primeiro encontro na formatura da Faculdade de Direito em 1937 a chamada turma da Alzirinha, da qual fazia parte também o filho de Agripino Grieco, Donatelo Grieco. O prestígio da filha do ditador levou ao teatro uma multidão e quando Agripino Grieco contemplou a platéia, disse: "Que assistência para uma conferência paga!" Após analisar a obra de Francisco de Assis Barbosa especialmente o livro "A vida de Lima Barreto", concluiu o orador: "Hoje, Sr. Francisco de Assis Barbosa, compreendido e imortal, o repelido criador de Isaias Caminha, Policarpo Quaresma e Gonzaga de Sá entra gloriosamente na Casa de Machado de Assis, conduzido por vossa mão, cuja bondade e lucidez não diferem da de João Ribeiro, e dela nunca mais sairá, como um dos seus mais altos dos patrimônios".
Convidado por Afonso Arinos, juntamente com Antônio Houaiss participou da elaboração da História do Povo Brasileiro, cuja parte colonial é de autoria de Jânio Quadros e a parte republicana coube ao próprio Afonso Arinos e esses dois amigos. No volume cinco "A República, As Oligarquias Estaduais", Francisco de Assis Barbosa escreveu os capítulos sobre o quadriênio tormentoso de Prudente de Morais, o de Campos Sales e o primeiro "funding loan", a carreira política de Rodrigues Alves, a carreira militar e política de Hermes da Fonseca, o quadriênio de Epitácio Pessoa e o Fim da República Oligárquica. No volume final "O Brasil Contemporâneo", escreveria sobre o quadriênio de Juscelino Kubtschek e no volume sobre "O Império", retomaria os estudos feitos sobre D. João VI com quatro capítulos sobre A Transferência da Corte Portuguesa, A política internacional de D. João VI, A volta do Rei e a Atuação dos deputados brasileiros nas Cortes constituintes.
O livro "A Vida de Lima Barreto" (1881-1922) publicado em 1952, é biografia modelar, das melhores que já apareceram entre nós. Com modéstia declara no prefácio da primeira edição, que: "longe de ser a análise em profundidade que está a pedir uma figura complexa como a de Lima Barreto, esse livro talvez um pouco extenso não passa na verdade de singela narrativa biográfica, entremeada de alguns episódios da vida brasileira, mais de perto relacionados com o autor de "Triste Fim de Policarpo Quaresma".
Mais adiante diria: "Não tenho pretensões a crítico literário, e não me julgo tão conhecedor da psicologia humana, qualidade que me parecem indispensáveis a quem se aventura a interpretar, em livro definitivo o drama de um grande escritor. Bem mais modesto foi o meu intento. Repórter que tem feito do jornalismo diário o meu ganha pão, tratei apenas de aproveitar com a máxima honestidade o material a mim confiado pela família do escritor, quando o editor Zelio Valverde, por volta de 1945, me incumbiu de organizar as Obras Completas de Lima Barreto. Fiquei assim de posse de uma boa parte do material que constitui hoje a Coleção de Lima Barreto, incorporada a Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional. "E concluía: se algum mérito houver, o que cabe a outros e não a mim reconhecer, será produto da paciência e da habilidade de quem armou o jogo de puzzle que resultou essa biografia".
A crítica discordou desse julgamento, reconhecendo os méritos da biografia. Para Antônio Houaiss "deu-nos Francisco de Assis Barbosa com este livro, a que ouso considerar sem medo a melhor biografia de um escritor brasileiro". E por Tristão de Ataíde "foi destacada como a melhor biografia de um escritor brasileiro já publicada em nossa língua, juízo enfático e perigoso, mas que não é fácil contestar, pois foi escrita com um cuidado, uma objetividade, uma paciência, uma elegância de estilo, um critério de relação documental, e acima de tudo, com um amor, sem desvario que realmente fazem dessa biografia qualquer coisa à altura da biografada".
O livro tem tido várias edições, recebeu o Prêmio Sílvio Romero da Academia Brasileira de Letras na categoria de "Ensaios" e o prêmio de Fábio Prado em 1952. Francisco de Assis Barbosa publicaria ainda o volume "Lima Barreto e a Reforma da Sociedade" (1997), organizaria as Obras completas de Lima Barreto em dezesseis volumes e editaria ainda uma história em quadrinhos da vida de Lima Barreto.
Outra obra importante é o livro "JK - uma Revisão na Política Brasileira" (1960), examinando apenas a fase inicial da vida desse político brasileiro, e que é, de fato, uma história do Império e do início da República. O volume se encerra com a revolução de 1932, e seria seguido do segundo volume, que marcaria as fases seguintes da vida de Juscelino, infelizmente não concluído.
No prefácio à edição de 1987, falava do segundo volume em preparação "(espero concluí-lo em breve)" quando estudo a ascensão e o apogeu, isto é o caminho percorrido pelo auxiliar de gabinete do interventor Benedito Valadares até à Presidência da República (1961). Do terceiro volume, "talvez não necessário", expunha: "mas isto farei se, a par das minhas atividades, que não pretendo encerrar tão cedo, se Deus me ajudar e me der saúde para tanto. Aos 73 anos estou convencido de que hei de terminar muitos projetos que tenho pela frente".
Escreveu numerosos prefácios "A Viola de Lereno" de Domingos Caldas Barbosa, as "Novelas Paulistanas" de Antônio de Alcântara Machado, "Contos" de Machado de Assis, as "Obras Científicas, Políticas e Sociais" de José Bonifácio de Andrade e Silva, "Poesias completas" de Augusto dos Anjos. Preparou ademais a reedição do centenário do romance "A Moreninha", "Memorando dos anos 90", apresentação e seleção de entrevistas e depoimentos de Alceu Amoroso Lima.
Os prefácios e apresentações não eram simples comentários formais, mas análises extensas do livro e da obra em seu contexto. No livro póstumo de Luis Camilo de Oliveira Neto - "História, Cultura e Liberdade" organizado por sua filha Maria Luisa Penna Moreira, menciona os "escritores sem livros". "Lembro-me de Francisco Otaviano, que Joaquim Nabuco chamou "a pena de ouro do Império", de Carlos de Laet, cuja obra daria volumes e toda enterrada nos jornais em que escreveu durante meio século, talvez o mais completo jornalista do Império. É o caso de tantos expoentes: José do Patrocínio, Ferreira de Araújo, Quintino Bocaiuva e Edmundo Bittencourt".
Na crítica literária escreveu a síntese "O Romance, O Conto e A Novela no Brasil" (1839 - 1940) em 1951, traduzido para o francês pela reputada editora Pierre Seghers.
Disse de Francisco de Assis Barbosa Josué Montello: "Afirmativo, dizia em voz alta o que pensava. Sabia discordar, ou melhor não sabia, porque obedecia, na hora da discordância aos seus impulsos de sinceridade veemente". Outro grande amigo Francisco Iglesias testemunhou: "Era simples e de enorme poder de sedução. Inteligente e gentil, um democrata, não distinguia as pessoas senão pelo que eram, não pelos seus títulos. Simpático, risonho e fala mansa. Elegante, vestia-se com discrição. Trabalhador, nunca deixou de estar dedicado a uma causa ou pessoa. Amava os livros e era leitor assíduo de jornais e revistas. Cultivou os assuntos de seu interesse com o pensamento neles ouvindo quem sabia ou queria falar. Sempre aberto e atento, sabia das coisas e das gentes, como jornalista e repórter que nunca deixou de ser.
De palavra fácil, não tinha arroubos de oratória. Jamais fugiu do tom coloquial, fosse na conversa, na tribuna ou na cátedra e sobretudo na escrita fluente e calorosa. A seu redor o clima era sempre ameno e comunicativo". Concluía: "Do homem Francisco de Assis Barbosa, só se pode falar bem - pelo que escreveu, pelo que trabalhou em vários campos, pelo que foi".
Manteve amizade com pessoas da geração anterior, a elas se igualando Ribeiro Couto, Otávio Tarquinio de Souza, Sérgio Buarque de Holanda, Roquette Pinto, Gilberto Freire, Fernando de Azevedo, Afonso Arinos e Pedro Nava.
Uma de suas últimas tarefas foi a reunião e os comentários de extensa correspondência entre Ribeiro Couto e Manoel Bandeira. Como todos sabemos, Ribeiro Couto vivendo no exterior, se correspondia com frequência com os amigos brasileiros e foi epistológrafo notável.
O último trabalho foi a organização e o prefácio da correspondência entre Antônio de Alcântara Machado e Alceu Amoroso Lima, a que deu o título de "Intelectuais da Encruzilhada" e para o qual preparou excelente introdução. O livro é o diálogo entre o escritor recentemente convertido ao catolicismo, o Adeus à disponibilidade, e o jovem paulista oriundo de uma das famílias paulistas de 400 anos, cuja inquietação espiritual se revelava em relação aos episódios do momento. O livro foi editado pela Academia Brasileira de Letras.
Para aqueles que conheceram Francisco de Assis Barbosa, guardaram certamente dele uma imagem agradável, amável e afetuosa que transbordou para os amigos. Para aqueles que não o conheceram terão nessas palavras a lembrança dessa figura excepcional, que duas frases melhor testemunharão a personalidade.
A morte de Francisco de Assis Barbosa foi no cumprimento do dever. Não estando bem de saúde, não quis deixar de viajar para São Paulo, afim de participar da banca de seu amigo Nicolau Sevcenko, onde a morte o colheu.
Disse Josué Montello: "Hei de lembrar-me dele assim pelo resto da vida".
E parafraseando o grande Roquette Pinto: "Francisco de Assis Barbosa, foi bom ter sido seu amigo".