No Egito não foi muito diferente, pois o faraó exercia seus poderes baseado na divindade ou divindades como Amon, Aton, Osíris, Thot, Ptah, Anúbis e Maat. Com isso, além do faraó e sua família, tinham privilégios e liberdades especiais os sacerdotes mais que os escribas, guerreiros, comerciantes, artífices e agricultores. Critérios semelhantes ou aproximados são válidos para os povos da Mesopotâmia (sumérios, acádios, assírios e persas), fenícios, cretenses e hititas.
Com os povos gregos e romanos surgem as novidades da democracia e da república. Em consequência, algumas classes sociais recebem direitos de cidadania, podendo votar ou serem votadas, e as escolhas ocorrem especialmente baseadas nas condições econômicas, mas também no mérito, sendo eleitos bons oradores e bons guerreiros (leia-se comandantes).
Tanto na Antiguidade como em outras épocas, quer na teocracia, na monarquia, na democracia ou em outra forma de governo, a mulher teve suas liberdades políticas ou civis (o que inclui a possibilidade de governo) muito reduzidas. É muito recente o reconhecimento dos direitos e liberdades tanto de votar como de ser votada para a mulher. E num período relativamente pequeno destas conquistas mulheres se tornaram Chefes de Estado na Índia, em Israel, na Inglaterra, na Alemanha, no Brasil, na Argentina e outros países.
A liberdade e possibilidade de votar e receber votos também tem sido ampliada para todas as classes. Em alguns países, também votam os analfabetos.
Na monarquia, a transferência do poder acontece através da hereditariedade, ou seja, de pai para filho ou para parentes mais próximos.
Na democracia, a conquista do poder se dá através dos votos, portanto, o poder central é do povo, embora esse mesmo povo não tenha mecanismos ágeis para o impedimento ou destituição de políticos incapazes e corruptos.
Embasados na obra de Montesquieu (Do Espírito das Leis, 1748), os diversos Estados, democráticos ou não, tem utilizado a tripartição legal dos poderes, ou seja, Executivo, Legislativo e Judiciário.
Numa análise mais acurada, embora funcionem os poderes legais, existem forças que interferem em seu exercício: o poder econômico, por exemplo, exercido por banqueiros, grandes proprietários agrícolas, grandes empresas comerciais e industriais e, especialmente, empresas concessionárias de serviços públicos, empreiteiras e até estatais. Não se pode desconsiderar que multinacionais e empresas de comunicação, exercem ou podem exercer o poder econômico e interferir no resultado das eleições. Agrupamentos sindicais de trabalhadores também não podem ser desconsiderados.
Alquimistas políticos tem encontrado fórmulas de alterar os resultados das urnas através de benefícios legais e critérios pouco equalizadores entre os concorrentes tais como, no caso do Brasil, a desproporcionalidade no cálculo da representatividade de Estados ou Províncias, privilegiando algumas regiões em detrimento de outras.
A remuneração de representantes municipais que trabalham poucas horas ao mês e a possibilidade destes terem muitos assessores tem prejudicado altamente a credibilidade das representações. O mesmo pode-se dizer nos âmbitos estadual (ou provincial) e federal.
O mecanismo das reeleições para qualquer tipo de mandato é, de certa forma, antidemocrático, pois privilegia pessoas que permanecem num mesmo cargo por até 40 ou 50 anos. Os mandatos para qualquer cargo não podem superar quatro ou cinco anos, também como condição de rotatividade. Isto não impede que o indivíduo tenha uma carreira política, pois são muitos os cargos aos quais ele poderá candidatar-se.
Retomando o aspecto da pluripartição dos poderes, não se pode negar a existência de um poder religioso - o "poder da fé" - que interfere na liberdade das pessoas - os fiéis ou devotos -, de acordo com seus cânones sagrados, na forma de alimentação, na maneira de vestir-se e comportar-se, além de interferir politicamente em vários países.
O poder militar é indiscutível e tem acontecido especialmente em regimes ditatoriais, sejam de direita ou esquerda.
O poder das comunicações, que já foi chamado de quarto poder, tem exercido forte influência, especialmente em períodos pré-eleitorais, podendo "fabricar" até presidentes. Destaque-se os institutos de pesquisa que não deixam de influenciar aqueles que votam para "ganhar".
Liberdade religiosa
A religião é uma criação humana que foi se desenvolvendo pelas experiências dos vários povos ao longo do tempo. Os homens primitivos, pela impossibilidade de explicações racionais dos fenômenos naturais danosos como vulcões, furacões, tempestades, terremotos, maremotos e outros, e até por medo e insegurança, tinham que encontrar justificativas. Daí surgem os deuses dos oceanos, das águas, das florestas, da agricultura, da guerra, do trovão e tantos outros, bons ou maus, conforme o próprio jeito de ser do humano.
As manifestações religiosas do passado prendem-se a afetividade humana, aos parentes e entes queridos e aos fenômenos da doença e da morte. As necessidades de continuidade da vida e de cura levam a cultuar os antepassados, não como mortos, mas como espíritos que permanecem próximos. Alguns povos entendem que o espírito volta ao mesmo corpo (egípcios) ou mesmo em outro corpo (bramanismo, hinduísmo e budismo): a reencarnação.
Tanto os caldeus e os egípcios, quanto os gregos e os romanos têm toda uma hierarquia de deuses, com poderes específicos, ou seja, deuses especializados para determinadas áreas, como demonstram as suas mitologias. Não diferentes são os povos do continente americano como os incas, os astecas, os maias e os tupi-guaranis.
Com origem nos caldeus (Ur-Caldéia), os hebreus ou haberus (do outro lado do rio), tendo como patriarca Abrão ou Abrahão, vem ocupar outros espaços em memorável viagem que faz. Com ele, a criação e organização de um tipo de crença que denomino mitologia hebraica, visto que em muitos aspectos é carente de sustentação histórica e científica.
Embora apresentem um só Deus, criador e invisível, o mesmo se manifesta com vários nomes: El Shadai, Javé, Jeová, El Elion e Adonai. O acompanham as hierarquias angelicais e cortes celestiais. Para a justificação de tal tipo de religiosidade, apresentam a queda de anjos, a permanente luta entre o bem e o mal e as forças malignas enquanto responsáveis pela morte, pelas doenças, pela ignorância, pelas superstições, conflitos, guerras e todo o mal no mundo. Apresentam o paraíso para premiar os bons e o inferno para punir os maus. A religiosidade cria a intermediação e aí todas as formas de hierarquias, liturgias, vestes, cerimônias, sacrifícios e, enfim, as contribuições obrigatórias em forma de mandamento: pagar o dízimo e outras contribuições para determinadas funções ou cerimônias. O dízimo até era justificável quando o líder religioso era também líder político e líder militar, numa possível transparência em que se sabia para onde ia o dízimo.
Com a vinda de um Salvador ou Libertador - Jesus Cristo -, profetizado e esperado por muito tempo, muitos não entenderam sua missão, que era muito mais espiritual que política e guerreira, o que o levou a ser martirizado. Seus seguidores, em especial graças aos tempos heróicos do cristianismo, multiplicaram-se até que tornou-se, com Constantino, em Roma, e Clóvis, na França, religião oficial. Em consequência, o desaparecimento de toda a mitologia greco-romana e a dispersão (diáspora) dos hebreus ou judeus.
Com o tempo, acontece tanto o aparecimento do Islamismo, como divisões entre os cristãos, com a separação em católicos romanos, católicos ortodoxos, protestantes e, mais tarde, os cristãos espíritas.
Na atualidade, embora haja movimentos de unificação, as ações são tímidas. Os católicos, com nova liderança - novo Papa -, tem esboçado mudanças, mas elas devem ser estruturais: as mulheres, por exemplo, que são maioria no número de fiéis e devotos, devem ser mais participantes nas decisões da Igreja, com cargos e funções destacadas e, porque não, algumas mulheres, especialmente as Superiores Gerais de grandes congregações, participando das eleições para a escolha do Papa; de outro lado, muitas congregações religiosas masculinas tem milhares de sacerdotes, com número muito superior ao que tem um arcebispo-cardeal, deveriam ter seus Superiores Gerais participando da eleição papal e, quem sabe, para maior proporcionalidade de representação no Colégio Eleitoral papal, todas as províncias eclesiásticas ou arcebispados deveriam ter representação para a eleição papal. Com este critério, talvez alguns países, como o Brasil, pudessem ter um maior número de eleitores, não aos moldes antigos, mas a partir de uma retomada da Teologia da Libertação (liberdade em ação).
Finalmente, devo dizer que toda a religiosidade sustenta-se e tem que sustentar-se na existência de uma divindade não só planetária, mas univérsica, na existência do espírito, em livro sagrado ou na tradição oral e ser, portanto, teísta, espiritualista e ecumênica. Não mais. Somente ações assistenciais justificariam tantas ações arrecadatórias e tanto patrimônio por parte de algumas religiões.
Liberdade educacional
O ser humano quando de sua formação no útero de sua mãe, durante nove meses, é totalmente dependente. Ao nascer, aprende a respirar, a mamar e continua dependente de sua mãe ou de quem a substitua. É dependente do pai enquanto este assume o papel de mantenedor da família e/ou da criança.
Com alguns meses, o bebê pode aprender a engatinhar, mas continua por muito tempo no colo e no berço. Ao aprender a andar, a criança obtém alguma liberdade e sai do berço, do quarto e explora os cômodos da casa e o quintal, mas sob a vigilância da mãe, da babá ou de quem faça as vezes.
Ao aprender a falar, substitui o choro, a birra, a linguagem dos sinais. E assim, a criança vai obtendo liberdade ao aprender a comer, a tomar banho, a vestir-se. Com alguns anos conhece o quarteirão, vai à escola, à igreja, às festas em família, sempre acompanhada; aprende a ler, escrever, fazer contas.
Percebe-se que o ser humano é o animal que por mais tempo é dependente, pois a maioria dos animais anda ao nascer e pouco tempo depois procura alimento.
Na juventude é que a maioria dos humanos podem ser mais livres, mais independentes e com a possibilidade de constituir família e procriar e dar continuidade ao processo.
A educação é um processo que tem início com os pais, educadores natos que possuíam mais poderes no passado e que foi sendo retirado aos poucos, com a interferência de legislação nem sempre bem feita ou aceita.
De outro lado, as creches e jardins de infância, apesar de todo o esforço dos educadores delegados, não substituem a educação materna que dava atendimento direto e pessoal, enquanto as educadoras tem que atender dezenas de crianças e de forma massificante, impessoal, deixando de lado os valores cultivados pela família.
O aprendizado que se dá em todas as instituições educativas: o lar, a família, a escola, a igreja, empresa de trabalho, clube ou onde acontecer, deve levar ao processo de libertação, não desconsiderando que o aspecto qualidade é imprescindível e que turmas ou más companhias podem levar aos vícios, às drogas e aos ambientes perniciosos.
Os educadores, os que ensinam, se bem formados e informados, fazem a diferença. A autodidaxia só é recomendável após um período de orientação por mestres competentes.
Ser livre nem sempre é ser insubmisso e indisciplinado, é sim buscar a ordem a partir da própria natureza, do bom senso, da razão e do exemplo de grandes luminares da humanidade e/ou do ambiente em que vivemos e que podem estar a nossa volta.
Liberdade de imprensa e comunicações
A liberdade de escolha de religião na infância é praticamente inexistente. Assim também acontece com a língua, o idioma. Aprendemos a falar a língua materna, ou seja, via de regra, ensinada pela mãe e pela família, o pai, os irmãos mais velhos e parentes próximos.
Em casos especiais, crianças tem tido possibilidades de conhecer e aprender mais de um idioma, dependendo dos pais possuírem mais recursos e/ou trabalharem em empresas multinacionais e representações governamentais que favoreçam a permanência em países diferentes.
Após passar pelo estágio dos sinais, gestos e formas rudimentares de comunicação, o homem vai conhecer as palavras e até a formação da língua. Os milhares de idiomas ou dialetos existentes no planeta surgem mais pelo distanciamento entre grupos que pela proximidade.
Todos os conhecimentos linguísticos e tecnológicos ampliam as liberdades. Com a criação do alfabeto, as escritas cuneiformes e hieroglíficas que se fazem em argila, pedra, peles, papiros, pergaminhos e papel possibilitaram as ampliações e liberdades nas comunicações.
Com a invenção da imprensa por John Gutemberg e a impressão da Bíblia, em 1455, há como que uma democratização do saber. É a imprensa possibilitando mais liberdade, mais conhecimentos. Outros livros são publicados e aparecem os jornais. As notícias circulam com mais rapidez e atingem mais pessoas. Há necessidade de readaptar-se aos novos tempos.
Mais de quatro séculos são passados e surgem novos meios de comunicação: o telefone, o rádio, o cinema, a televisão, o telefone móvel, o computador e as redes sociais. A liberdade amplia-se com tantas formas de comunicação.
Finalmente, cabe a questão: chegamos à liberdade plena ou à servidão?
Procurando responder a tal indagação, podemos dizer que nem uma e nem outra, mas sim a uma graduação de liberdade ou servidão dependendo de fatores como faixa etária, condições biológicas, psicossociais, econômicas, profissionais, éticas e religiosas, dentre outras, é que cada ser humano, cada grupo ou Estado é mais ou menos livre.
Tantas outras liberdades como a jurídica, a artística, a de mobilidade, a de pensamento, a de expressão, a de cátedra, a de púlpito, a de tribuna e a de imprensa devem ser pesquisadas.
Este texto é somente introdutório e em linguagem jornalística para um espaço reduzido.