Não fosse sua paixão dedicada à arte – e neste caso apenas paixão não bastaria –, seu desprendimento prenhe de forte sentimento altruísta, sua decisão firme e inamovível, sua competência teórica e técnica – em boa parte angariada ao longo do caminho – e seu espírito realizador, a Casa da Xilogravura teria se esboroado em sonhos.
O Prof. Dr. Antonio Costella é astro maior em torno do qual orbita a existência do museu. Parcela considerável de sua vida confunde-se com o belíssimo projeto de dar ao Brasil o seu mais importante acervo de gravuras obtidas, segundo ele (e para simplificar), “com o uso de algo equivalente a um carimbo de madeira”.
E, em razão desta reconhecida importância, o Prof. Dr. Costella, com a consciência da dificuldade de se reunir um acervo de tal monta – algo que fez por mais de trinta anos – decidiu, por disposição testamentária, doar o prédio e todo o seu conteúdo para a Universidade de São Paulo, onde estudou e foi professor por trinta anos, sob quatro condições: manter e conservar nos imóveis doados um museu de xilogravuras, aberto ao público; manter os despojos de seu cão Chiquinho no local em que se encontram no jardim; manter no mesmo jardim as suas cinzas e de sua esposa Leda; e, por fim, manter o nome Casa da Xilogravura, ressaltando que caso a USP decida pela atribuição de algum nome que seja o dele e de sua atual esposa Leda.
O cão Chiquinho é um capítulo à parte que vale a pena ser contado, embora abreviadamente.
Quando, em 1977, o Prof. Costella adquiriu a casa em Campos do Jordão para ali fixar residência, também criou a Editora Mantiqueira que, num primeiro momento, esteve adstrita à publicação de livros de interesse regional ou ligados às áreas de Artes e Comunicação, sendo alguns sobre xilogravura. Nessa primeira fase, a editora funcionava como um hobby para o autor.
A história de Chiquinho com a editora começa, em 1989, quando o autor, embora já tivesse publicado uma dezena de livros – muitos deles de natureza técnica – e depois de realizar uma viagem a Portugal, em companhia de sua primeira esposa e de seu “cão sem igual”, para ministrar um curso na Escola Superior de Jornalismo, decide escrever sobre suas “andanças pelo interior de Portugal” colocando o cão Chiquinho como o narrador das histórias. O livro Patas na Europa, publicado em 1993, foi muito bem recebido pelo público, gerou dezenas de entrevistas – inclusive no Programa do Jô Soares –, inaugurou a série Patas e fez da editora, pela primeira vez e após tantos anos, um empreendimento lucrativo.
É a partir daí que a editora, como empresa social, torna-se a principal mantenedora da Casa da Xilogravura e o cão Chiquinho tem sua efígie – desenho do ilustrador Eduardo Baptistão – transformada no logotipo da empresa.
Desde 2004, “ao término de uma longa reforma” iniciada em 2001 e que reestruturou por completo o museu, as despesas aumentadas exigiram alternativas para geração de receita. E, muito embora estabelecido um valor simbólico de ingresso aos visitantes e criada uma lojinha no interior do museu, os recursos auferidos ainda são pouco significativos para a cobertura das despesas crescentes.
Contribuição da iniciativa privada? Jamais em espécie.
Incentivo e apoio do Poder Público? Nem pensar.
Não fosse a editora...
O fato é que sem a criatividade, a disponibilidade e o trabalho do Prof. Costella, de sua esposa Leda e de seus funcionários-colaboradores, o fado da Casa da Xilogravura seria outro e, muito provavelmente, a Arte, o Brasil e o mundo teriam arrancadas importantes e irrecuperáveis páginas de sua história.
Não fosse Antonio Costella...
Ele próprio, certa vez, escreveu: “No mundo da comunicação e da arte, as técnicas nunca morrem. Todas sobrevivem ainda que com um alcance menor, às vezes infinitamente menor” (COSTELLA. O Museu e Eu. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2012). Certamente, o legado construído, ao longo de uma vida, pelo Prof. Antonio Costella é suficientemente grande para nunca permitir que a técnica da xilogravura se torne infinitamente menor.
A trajetória de vida do Prof. Costella é imagem a ser gravada – de preferência xilogravada! – indelevelmente na alma de todos nós como modelo de consciência histórica, de determinação de espírito, de dedicação ao outro e, sobretudo, de ação voltada para a perpetuação da beleza humana que ele tão bem representa.
Confira
seleção de obras em nossa Galeria.
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Para saber mais leia:
O museu e Eu: História Sentimental do Museu Casa da Xilogravura, de Antonio Fernando Costella, publicado pela Editora Mantiqueira, em 2012.