A luz elétrica tornaria o Rio "a mais iluminada capital do mundo", dizia-se com certo exagero. O automóvel substituiu o tílburis, o bonde elétrico, os de tração animal, belos prédios de estilo "art-nouveau" surgem ao longo da Avenida Central e adjacências, como Teatro Municipal, inaugurado em 1909, o da Biblioteca Nacional, inaugurada em 1910. E Rio Branco já pode trazer convidados estrangeiros ilustres, como Clemenceau, Ferri, Anatole France - não mais se temia a febre amarela, como cantou o poeta Rubén Dario em 1906: En Rio de Janeiro iba a porseguir...Ya no existe allá fiebre amarilla. Me a legro!". Enfim, como diriam: "O Rio civilizara-se!"
No seu governo foram iniciadas as obras de modernização e ampliação do Porto do Rio de Janeiro, por Lauro Müller que contou em sua equipe com Paulo de Frontin, entre outros e a colaboração do próprio Pereira Passos. As obras foram iniciadas em 1904, com a presença de Rodrigues Alves que, vindo de Petrópolis, chegou de navio desde o Porto Mauá, no fundo da Guanabara, sendo recebido com salvas de canhão, banda de música e aclamação dos marinheiros postados no tombadilho dos navios ancorados ao largo e pelo povo postado em terra. As obras foram continuadas, como previsto, no quatriênio seguinte e a inauguração do novo porto deu-se a 20 de julho de 1910 por Nilo Peçanha. Pronta já estava, junto ao Porto, a grande avenida que tomou o nome de "Rodrigues Alves".
No campo diplomático e das relações internacionais, destaca-se o Barão do Rio Branco. Uma das mais importantes questões de política externa, certamente foi a incorporação do Acre. A questão, envolvendo a Bolívia e o Brasil, além dos interesses do Estados Unidos em intervir no Acre, aguça-se a partir de 1895, com a expansão da exploração da borracha por brasileiros migrados para essa região. Para maiores informações, remetemos à História do Brasil de Pedro Calmon, acima citada, capítulo XX, PÁGINAS 2060 a 2071. Graças ao trabalho do Barão do Rio Branco e da disposição do governo brasileiro, foi firmado o "Tratado de Petrópolis", a 17 de dezembro de 1903, adquirindo o Brasil, por 2 milhões de libras esterlinas, um território de 191 mil quilômetros quadrados, cedendo o Brasil uma pequena área de 3.200 km2. Resolvida a pendência com a Bolívia, restava a questão dos acreanos, pois seu líder Plácido de Castro não queria fosse anexado o Acre ao Amazonas. Pelo Decreto 1.181 de 25 de fevereiro de 1904, o Governo Federal lhe deu a categoria de Território, até então inédita no Brasil. Completou-se também a linha divisória com os países limítrofes - Peru, Equador (então limítrofe), Colômbia, Venezuela, Guiana Britânica, Suriname e Argentina.
Outro importante triunfo diplomático foi a criação, pelo Papa São Pio X, em 1905, do 1º Cardinalato da América Latina, suplantando as intenções da Argentina que tinha como trunfo,o fato de a Religião Católica ser a religião do Estado, enquanto que no Brasil Republicano houve a separação entre Estado e Igreja, além do eco do mal-estar provocado pela "Questão Religiosa" do final do Império, quando 2 bispos foram condenados à prisão. Depois anistiados pelo Gabinete Caxias.
Ainda no tocante às obras públicas, podemos citar, entre outras, as seguintes: construção de açudes, perfuração de poços e criação da Superintendência dos serviços de obras contra as secas ; início da construção da Estrada de Ferro Noroeste ( de Bauru ao Mato Grosso); início da construção da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré (prevista no Tratado de Petrópolis,terminada no governo seguinte, porém entrando em decadência com o fim do "Ciclo da Borracha" da Amazônia, logo em seguida); melhoramentos na Estrada de Ferro Central do Brasil. Construção e prolongamento de estradas no Nordeste e Norte; contratação da construção de portos do Pará, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul e o de Massiambu; instalação da fábrica de pólvora sem fumaça de Piquete e do ramal ferroviário Lorena - Piquete; construção da Fortaleza de Lage (RJ); organizada e inaugurada a Maternidade do Rio de Janeiro; remodelação e aparelhamento da Marinha de Guerra e modernização do armamento do Exército (3).
São normalizadas as relações com os Estados Unidos, sendo elevada à categoria de embaixada a representação diplomática norte-americana (única na América Latina então); reorganização do ensino militar; notável impulso À implantação da identificação digital (dactiloscopia).
Também foi importante a reforma do Banco do Brasil (nome agora oficializado) que passaria a receber saldos do Tesouro, fazer-lhe adiantamentos por antecipação da receita, contratar com a União e os Estados, servindo de intermediário entre eles e os mercados nacionais e estrangeiros, comprar e vender títulos da dívida pública, além das operações normais de um banco.
No tocante à política de valorização artificial do café, Rodrigues Alves acabou aceitando, embora fosse contra, o famigerado "Convênio de Taubaté" acordado pelos estados de S. Paulo, Minas e Rio de Janeiro, que provou ser de funestas consequências mais tarde. Aliás, era essa sua opinião: " A valorização do café, além de ser desastrosa, corre o risco de se transformar em um negócio para o governo" - palavras proféticas! (4).
Rodrigues Alves notabilizou-se, também, como economista, defendendo o câmbio e a moeda (aliás, o ponto crucial do Convênio de Taubaté - a desvalorização do câmbio - rejeitada veementemente por ele e que o Congresso acabou por também não aceitar). E deixou ao seu sucessor um saldo de 9 milhões de libras esterlinas-ouro do Tesouro, em bancos londrinos.
A sucessão de Rodrigues Alves foi perturbada pela intervenção de Pinheiro Machado que conseguiu fazer eleger Afonso Pena. Infelizmente o ideal alvista não teve prosseguimento e a República Velha, esclerosada por 24 anos, vai cair em 1930.
Rodrigues Alves termina seu quatriênio com uma derrota política. Porém, ao deixar sua residência do Rio, para tomar o trem a fim de voltar a sua cidade natal, recebe uma consagração pública até então nunca vista. A multidão tomou conta da Rua Vergueiro e invadiu as ruas até o Campo de Santana. Os estudantes pretenderam desatrelar os cavalos da carruagem que Afonso Pena pusera a sua disposição e eles mesmos a puxarem. Rodrigues Alves parlamenta com eles que desistem da ideia. A carruagem quase não conseguia passar entre a multidão e o Conselheiro teve de ser arrastado até o vagão presidencial de comboio especial que o trouxe a Guaratinguetá, recebendo ele, em todas as estações do percurso, entusiásticas manifestações de apreço. Era 15 de novembro de 1906. Rodrigues Alves, após algum descanso em sua cidade, empreende uma viagem à Europa, onde foi recebido com demonstrações de reconhecimento de sua profícua ação no Governo Federal.
Voltando de sua viagem à Europa, Rodrigues Alves recolhe-se a Guaratinguetá, pretendendo afastar-se dos postos políticos e dedicou-se intensamente à família, permanecendo em sua casa na Rua Morais Filho, cuidando do casamento de sua filha Celina, realizando o casamento civil na sala de visitas e, após, o religioso na capela armada na sala de jantar. Assim transcorria tranquilamente sua permanência em Guaratinguetá. E até o ano de 1912, quando é eleito para governar S. Paulo pela terceira vez, não ocupou cargo público algum, porém, continuava presente na vida política, apreciando os elogios agora lhe dedicados pelos jornais do Rio, saudosos de suas administrações, aconselhando, intervindo mesmo, nos graves conflitos políticos desse período e rejeitando insistentes apelos para que se candidatasse, novamente, à Presidência da República. Seus planos eram, antes, tornar a governar S. Paulo e, então, possivelmente candidatar-se novamente aquele cargo. Sua casa torna-se, mais uma vez, centro de grandes debates de política nacional e ponto emissário de constantes missivas sobre a situação federal e estadual. A localização de Guaratinguetá, entre Rio e S. Paulo, com fácil comunicação por estrada de ferro, permitia-lhe estar presente às diversas demarches políticas e receber, em sua casa, políticos que vinham consultá-lo.
Em 1912, é chamado, mais uma vez, a terceira, a presidir o Estado de S. Paulo.
Apesar de divergências, em especial a respeito da valorização artificial do café, os diversos grupos políticos recorrem a ele, diante das graves ocorrências da política pinheirista que ameaçava intervir em S. Paulo; era preciso defender sua autonomia.
Destacamos, para não nos alongarmos demasiadamente nestas notas, alguns tópicos de sua Mensagem ao Congresso Estadual, enviada a 14/07/1913. "Infelizmente, o longo período decorrido dentro do actual regimen não nos habilitou ainda a bem cumprir as normas democráticas... Nem puderam se formar partidos políticos regulares... O que -às vezes, e por conveniências ephemeras e passageiras, se tem chamado de partidos - não tem sido senão agrupamentos, sem uma séria preocupação de idéias e princípios, e dominados, quasi exclusivamente, pelos sentimentos pessoaes de seus directores" (pág 4).
"O extraordinário movimento de importação e exportação verificado no decurso do ano findo, veio demonstrar a insuficiência dos grandes aparelhos de que está dotado o porto de Santos...renovamos... junto ao Governo Federal, o pedido que havíamos feito, em período anterior, para o prolongamento do caes de Santos" (pág 13).
"A instrucção pública, elemento basico de todo o progresso moral, intellectual e material, tem sido sempre um assumpto de especial carinho do Governo do Estado" (pág 12). A seguir enumera grande número de Grupos Escolares inaugurados por ele no ano anterior, a necessidade de reorganizar o ensino secundário e, na pág. 23: "Creada pela lei no 19 de 12 de novembro de 1891, a Faculdade de Medicina e Cirurgia foi inaugurada a 2 de abril do corrente ano, sendo confiada a sua direcção á reconhecida competencia do Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho". Prossegue falando sobre as 9 Escolas Normais já existentes e a necessidade de se criarem outras no interior.
Mais adiante propõe a remodelação e ampliação das secções do Museu do Ipiranga e as providências para executar a lei no. 1.324 de 31/10/1912, por ele promulgada, que manda erigir um Monumento Nacional a ser construído no local exato do Grito do Ipiranga. Para isso ele solicitou o concurso de Governadores, Prefeitos etc., conforme documentação existente no Museu H.P " Conselheiro Rodrigues Alves" de Guaratinguetá. E mandando remodelar e ampliar o parque anexo ao Museu do Ipiranga.
Na pág. 20, manifesta a intenção de fundar uma Escola de Polícia Científica. E já fala da dificuldade da Polícia em coibir "a nevrose da velocidade" dos veículos1 E, de notável visão é a fundação, a título de experiência, de uma "Escola de Aviação", em 1912, cujo professor contratado foi Eduardo (Edu) Chaves: e pede que o Congresso Estadual a torne definitiva, tendo em vista "os serviços que póde prestar este novo meio de locomoção"... "reputamos de grande utilidade dotar nossa organisação policial de mais este melhoramento". Isto apenas 6 anos após o vôo pioneiro de Santos Dumont (23/10/1906).
Nas páginas 37 a 39, trata da reforma do Judiciário: criacão de entrâncias para favorecer a estabilidade dos juízes, dando-lhes "caracter de verdadeira carreira": a investidura dos juízes mediante concurso; melhora de seus vencimentos, "finalmente , algumas disposições processuaes urgentes que possam estabelecer a confiança daquelles que têm pendências no foro, salientando-se, no meio do intenso clamor publico, a famosa retenção de autos que tanto desmoralisa a nossa vida forense, desalentando a todos os que precisam recorrer á justiça nesta terra"."A frouxidão no funcionalismo da justiça é mais grave do que em qualquer outro ramo administrativo, porque afinal nas funções judiciarias repousa a garantia de todos os interesses da sociedade".
Seria, talvez, demasiado longo determo-nos em maiores detalhes da Mensagem em pautal. Nela são elencadas inúmeras propostas relativas à polícia, à agricultura, à imigração, a obras diversas, ao saneamento de cidades, às estradas de ferro, a como proceder aos estudos e à dotação orçamentária para "construção de uma estrada de ferro de 0m,60 de bitola entre Guaratinguetá e Cunha" (nos anos 20, alguém quis exageradamente estender o projeto até Paraty, e o Comendador Antônio Rodrigues Alves instruiu para que a Assembléia Legislativa não aprovasse essa pretensão, que poderia dificultar a realização da estrada projetada pelo Conselheiro, e que também acabou não sendo executada pelo Governo Estadual); acrescem ainda propostas relativas à imigração, principalmente de italianos: à navegação; à industria agrícola, à valorização do café etc. Nesse seu governo promoveu consideráveis melhoramentos na Escola Agrícola "Luiz de Queirós": concitou os residentes dos Estados a apoiarem vigorosamente o Presidente da República Wenceslau Braz diante da ameaça à ordem na Capital Federal, visando, assim, Rodrigues Alves, à consolidação constitucional.
Acometido de anemia perniciosa, licencia-se do governo a 11/10/1913 e recolhe-se a Guaratinguetá, depois transfere-se para sua residência do Rio para melhor cuidar de sua saúde, mantendo-se afastado do governo quando estoura a Guerra de 1914 e recebe acusações de vário calibre incluindo-se a campanha contra dirigida pelo jornal "O Estado de São Paulo" e por Rangel Pestana, a pretexto de combater-se a "oligarquia paulista"! O mesmo Rangel Pestana, entretanto, no seu famigerado livro acusatório, afirma ser dele "o melhor serviço... prestado ao povo de São Paulo" e de, como Presidente da República e do Estado, nunca ter participado de "negociata", apesar dos grandes negócios e concessões públicas por ele autorizados!
Em janeiro de 1915, reassume o Governo Paulista com grandes manifestações de apreço, participa ativamente da política nacional, principalmente quanto à sucessão presidencial e na qustãao da revisão constitucional a que era contra, e lhe valeu acerbo manifesto de Rui Barbosa contra sua candidatura a um 2o. mandato presidencial em 1917.
Nesse ano, o presidente Wenceslau Braz convocou a palácio a Rodrigues Alves e mais uns poucos próceres como o próprio Rui, para ouvi-los a respeito da posição que o Brasil devia tomar ante o afundamento de navios brasileiros pela marinha alemã, o que levou o Brasil a declarar guerra aos Impérios Centrais, Alemão e Austro-Húngaro.
Nessa ocasião já havia deixado a Presidência do Estado, maio de 1916, retornando a Guaratinguetá. "Ia vivendo a vidinha da sua cidade. Frequentava as festas de Santo Antônio, na matriz, para ouvir a missa do padre João (nota nossa: Pe. João Filippo) e os sermões dos pregadores vindos do Rio. Disputava a nomeação de promotores e delegados nas comarcas vizinhas. Escrevia às netas, aos filhos, aos amigos. Mas também não perdia de vista os grandes fatos nacionais" (Arinos, Afonso,op.cit.Pag. 788). Entretanto, logo após deixar o Governo de S. Paulo, é conduzido à Comissão Diretora do P.R.P. e , depois, ao Senado Federal, representando S. Paulo. E Guaratinguetá torna-se, novamente, centro de intensa movimentação de políticos que, na casa da Rua Morais Filho, vêm debater com ele questões referentes à vida política paulista e nacional. Agora, novamente no Senado, vota a favor do rompimento de relações diplomáticas com a Alemanha, ele que fora acusado de "germanófilo" pela imprensa hostil, pouco antes.
Desde a morte de Pinheiro Machado, em 1915, o nome do Conselheiro era cogitado para um novo mandato presidencial. Em março de 1918 é eleito, pela 2a vez, Presidente da República, fato até agora inédito - alguém ser eleito por eleição direta - duas vezes Presidente da República. Sua candidatura surgira como recurso apaziguador das intensas divergências políticas dentro dos Partidos Republicanos Estaduais. A "Política do Café com Leite" estava refeita. Porém, devido a seu estado de saúde, não pôde ele assumir a 15 de novembro a Presidência da República e vindo a falecer a 16 de janeiro de 1919, no Rio de Janeiro, para onde tinha ido na esperança de poder tomar posse do cargo. Como em 1906, grande massa popular foi homenageá-lo, agora numa atmosfera de tristeza. Desaparecera aquele que fora considera do o "maior dos brasileiros vivos" e que, anos mais tarde, o terrível crítico Paulo Duarte afirmaria ter sido o "melhor Presidente da República, até os tempos atuais.
Seu enterro deu-se em Guaratinguetá, no dia seguinte, vindo o caixão em trem especial, com grande acompanhamento de autoridades federais e estaduais e do povo de sua terra. Enterrado no Cemitério do Senhor dos Passos, aguarda, ainda hoje, o prometido mausoléu que o Governo mandaria erguer. Seu túmulo, relativamente modesto parece estar mais de acordo com sua modéstia pessoal.
Sobre a causa de sua morte, alguns historiadores de ligeira informação, caíram no sofisma chamado em Lógica de sofisma do "post hoc ergo propter hoc" - isto é - "depois disto, logo por causa disto". Pois, como morrera ele após a epidemia da "Gripe Espanhola", logo morrera vitimado por ela. O próprio Afonso Arinos, neto do Conselheiro, em nota 2 da página e sua biografia deste, estranhamente diz: "O atestado de óbito foi firmado pelo Professor Raul Leitão da Cunha, dando como causa mortis leucemia (assistolia aguda no decurso de anemia perniciosa). Na verdade a morte proveio da gripe". Porém, em recente artigo publicado na revista "Jovem Médico 6/97", sob o título "O Atestado de óbito do Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves", o Professor Dr. Carlos da Silva Lacaz assim expõe: A certidão de óbito passada pelo bacharel em Direito Solfieri Cavalcanti de Albuquerque, serventuário vitalício da 4a. Pretoria Cível do Distrito Federal... assinala, conforme atestou o prof. Raul Leitão da Cunha ( 1881-1946), que o eminente brasileiro falecera de 'asytologia aguda no decurso de uma anemia perniciosa'. Na realidade, Rodrigues Alves era portador de uma anemia grave, pois naquela época não se diagnosticava, ainda, a anemia perniciosa. Esta anemia grave foi provocada, talvez, por uma neoplasia não diagnosticada. Rodrigues Alves foi um homem doente, reclamando cuidados de saúde".
Testemunhas várias falam de sua dedicação à família e, de modo especial, do desvelo que dedicou aos filhos, após a morte de sua esposa, Ana Guilhermina de Oliveira e Borges Alves: também declaram, como o Dr. Cássio Rezende, médico mineiro aqui radicado, referindo-se a visita médica feita quando o Conselheiro já se encontrava bastante debilitado: " O Conselheiro Rodrigues Alves encantava pela sua finíssima educação e pareceu-me um homem boníssimo de coração e muito resignado" (in "Memórias de um Médico", pág 121;Liv. S. José-RJ, 1968). Brito Broca, em suas "Memórias", traz o testemunho insuspeito de sua avó que definia como "homem delicado e boníssimo"..."Recordara a ocasião em que se vira obrigada a procurá-lo à noite, por motivo urgente, e fora recebida da melhor maneira. Depois e atender-lhe o pedido, ele próprio acompanhara-a até a porta da rua, alumiando o corredor co a vela. ..Podia mandar um criado, mas fizera questão de manifestara aquela deferência a quem viera solicitar-lhe os préstimos" (Broca, Brito- "Memórias", pág. 114 - Ed. José Olympio - RJ, 1968).
Por ocasião de seu centenário de nascimento, em 1948, dezenas de entidades homenagearam nosso ilustre conterrâneo e, em quase todos os discurso, havia a referência a sua cidade natal que, assim, mais uma vez, se tornava um ponto brilhante na Geografia e na História do Brasil. E Aureliano Leite, em discurso na Ordem dos Advogados assim se expressou: " Ninguém, neste vasto país, assim nos Estados, como na Capital Federal, recebeu maior consagração no centenário natalício que Francisca de Paula Rodrigues Alves" ( Tomo I da Coletânea de discursos em homenagem ao Conselheiro, no seu Centenário Natalício, pág. 223, SP - 1951).
Concluímos, "data venia", com Carlos Lacaz: "Neste pequeno trabalho presto, como conterrâneo do Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, minhas homenagens a um grande brasileiro que sempre honrou o nome de sua terra. Conforme registrou...o acadêmico Francisco de Assis Barbosa, a pequena estátua que (se) ergueu no antigo Largo do Rosário, em Guaratinguetá,... foi, de fato, insuficiente para homenagear vulto tão marcante e eminente do Império e da República" ( Lacaz, Carlos da Silva,id.,ib). Guaratinguetá, no Sesquicentário de Nascimento do Conselheiro Rodrigues Alves, em 1º de julho de 1.998.
Notas:
(1) - O luterano Melanchton (1497-1560) apresentou a tese do direito divino dos reis, bem acolhida pelos príncipes protestantes. A reação católica veio com Francisco Suarez, SJ. (1548-1617) e outros anteriores. Suarez nega a tese do direito divino dos reis e sustenta que o povo é o depositário da autoridade que transfere ao Soberano e a existência de um direito natural fundamento na lei divina eterna. Porém, pensadores leigos e até mesmo protestantes, procuram, no Renascimento, formular uma teoria do direito natural que fundamentasse o Estado, independente de pressupostos religiosos. Nisto se destacou Hugo Grotius ou de Groot (1583-1645). Segundo ele existe uma lei natural, expressão da vontade suprema do Criador, porém manifestada, não por revelação divina, mas pelo estudo racional da natureza humana - temos aí princípios universais, comuns a todos homens: liberdade religiosa e de pensamento, respeito aos bens alheios e a pessoa - que o conteúdo do direito natural e são o undamento do direito positivo ( leis impostas pelo Estado e mutáveis segundo as circunstâncias históricas) . A sociedade origina-se espontaneamente da natureza social do homem, em virtude de um contrato primitivo, implícito ou explícito. Para os jusnaturalistas, esses princípios do direito natural e neles o Estado encontra, ao mesmo tempo, o limite e a justificação da sua soberania. No século XVIII, o Iluminismo irá abraçar e desenvolver essa teoria no combate ao "Antigo Regime".
(2)- Na "Introdução" ao livro "História da Vida Privada no Brasil- 3, República da Belle Époque à Era do Rádio", Companhia das Letras, SP, 1998, Nicolau Sevcen ko, organizador da coleção, na página 23, dá-nos um exemplo de como a "ideologia" pode deturpar s visão do historiador. Sobre a "Revolta da Vacina", afirma ele: "Num surto espontâneo, massa de cidadãos se voltaram contra os batalhões de visitadores e a força policial, dirigindo-se para o centro da cidade, onde as obras de reforma urbana prosseguiam". Nada é referido sobre a ação dos adversários políticos de Rodrigues Alves que, aproveitando-se do descontentamento e do medo popular da vacina, instigavam desde o Congresso,.e mesmo nas ruas, a população a se revoltar. Nada é dito dobre a ação de Barata Ribeiro ( na Câmara e nas ruas, presente às desordens de rua), Barbosa Lima, Lauro Sodré (parlamentar, oficial do exército, oficial do exército e maçom) Alfredo Varela (a tríade que assumiria o governo ditatorial se a conspiração fosse vencedora), a sombra nefasta de Pinheiro Machado, o prestígio e a facúndia de Rui Barbosa veemetemente contrário à vacinação obrigatória como atentado à liberdade individual, dos positivistas, dos florianistas, de médicos tacanhos, de jacobinos republicanos, de anarquistas "italianos" vindo nas levas de imigrantes; nada é dito sobre a participação das Escolas Militares da Praia Vermelha e do Realengo que ameaçaram tomar o Palácio do Catete. A imposição da vacinação, apesar da oposição de parlamentos acima citados, fora aprovada pelo Congresso Nacional! O próprio Rui, no discurso inaugural de sua Campanha Presidencial de 1910, atacando o "militarismo", em sua campanha "civilista", falando dos militares diz:
"- Quem saiu, em 1904, armas em punho, às ruas da Capital, com a bandeira da insurreição desfraldada contra o chefe do Estado, sob a administração Rodrigues Alves ?" ( Rui Barbosa - Escritores e Discursos Seletos" - Aguilar, RJ., 1960, pág. 306).
(3)- O plano de Rodrigues Alves para as estradas e ferro, continuado após seu governo, foi, contudo, interrompido pela deflagração da Guerra Européia de 1914-18.
(4)- "... apesar da oposição do presidente à solução do Convênio de Taubaté, a política de valorização do café se impõe, o que significa a primeira intervenção do Estado na economia, mas em benefício dos produtores de café. Está criado assim um mecanismo que torna o Estado um instrumento dos interesses da oligarquia cafeeira dos grandes estados que afinal , controlam os destinos do país" (Koshiba, Luiz e Pereira, Denise Manzi Frayze - in "História do Brasil", 3a. ed. pág. 225 - Atual Editora -SP, 1980).
Referências:
ARINOS, Afonso: "Rodrigues Alves - Apogeu e Declínio e Presidencialismo". São Paulo, Editora da USP, 1953.
SILVA, Hélio. "Rodrigues Alves - 5o. Presidente do Brasil (1902-1906)". São Paulo, Editora Três, 1983.
CALMON, Pedro. "História do Brasil. Rio de Janeiro, Ed. José Olympio, 1961, vol. 6.
SILVA, Gastão Pereira. "Rodrigues Alves e sua época, Rio de Janeiro, Editora A Noite, s.d.
"Centenário de Rodrigues Alves" - Coletânea de Discursos Comemorativos do Centenário de Nascimento - 1948 - Edição da Família de Rodrigues Alves."
Arquivo do Museu Histórico e Pedagógico "Conselheiro Rodrigues Alves" - Guaratinguetá, SP.