Na chamada "Suíça Brasileira", teve Ribeiro Couto, pela primeira vez na vida, contato com o campo, passando seus sonetos a refletir, como anotou Milton Teixeira, "a paisagem campestre que começava a amar e que deixaria influências marcantes no estilo do escritor",
20 assim como "o sol da montanha", como ponderou Tristão de Ataíde, ainda que não tenha deixado de ser também o poeta da névoa, da penumbra e dos "crepúsculos chuvosos", para usarmos expressão do mesmo Tristão de Ataíde.
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A maior parte dos poemas escritos na denominada "Montanha Magnífica" foi publicada na segunda parte do livro Um homem na multidão, publicado em 1924, mesmo ano em que foram dadas à estampa as obras A Cidade do Vício e da Graça e Poemetos de ternura e de melancolia. Graças a este primeiro livro pode ser Ribeiro Couto reputado o mais importante cronista do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX, depois de João do Rio, que, aliás, o influenciou nesta obra, como bem assinalou Brito Broca.
22 Poemetos de ternura e de melancolia, obra publicada, aliás, por Monteiro Lobato & Cia., é, por seu turno, um dos mais importantes livros poéticos do autor de Província e de Noroeste e outros poemas do Brasil, contendo, dentre outros, o famoso soneto Surdina, que assim principia: "Minha poesia é toda mansa./ Não gesticulo, não me exalto.../Meu tormento sem esperança/Tem o pudor de falar alto."
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Como sublinhou Pedro Paulo Filho, o mais célebre dos poemas escritos por Ribeiro Couto em Campos do Jordão, a Canção de Campos do Jordão, não foi, porém, enfeixado na segunda parte de Um homem na multidão, intitulada O chalé na montanha, mas sim no livro Canções de amor,
24 editado em 1928, em São Paulo, pela Companhia Editora Nacional, de Monteiro Lobato. É com este formoso soneto que encerramos a primeira parte deste trabalho, não sem antes salientar que Ribeiro Couto é, em nosso sentir, não apenas santista, mas também jordanense e sambentista e, como tal, mantiqueirense e valeparaibano, tendo sido, aliás, chamado por Plínio Salgado, mais ilustre dos filhos de São Bento do Sapucaí, "o poeta da minha terra natal".
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Canção de Campos do Jordão
Os pinheiros, pelas colinas,/ Espalhando a copa redonda,/ Infiltram no ar suas resinas./ Faz frio. Antes que o sol se esconda/ Encho o peito de essências finas./ Bom ar, de Campos do Jordão,/ Bom ar, curai o meu pulmão!/ Há bois pastando, campo em fora,/ Roendo a relva de veludo./ Acabou-se: o sol foi-se embora./ Um ar tão doce pousa em tudo!/ Dói-me a tristeza desta hora./ Bom ar, de Campos do Jordão,/ Bom ar, curai o meu pulmão!/ Cheio de mágoa e de esperança,/ Vou a chorar pelo caminho,/ Enquanto em roda a noite avança./ Perdi o amor. Estou sozinho./ Mas, meu Deus, ainda sou criança.../ Bom ar, de Campos do Jordão,/ Bom ar, curai o meu pulmão!26
1Cumpre sublinhar que, embora Milton Teixeira, biógrafo de Ribeiro Couto, tenha afirmado que a mãe deste era natural da ilha da Madeira, no então Reino de Portugal (Ribeiro Couto, ainda ausente, São Paulo, Editora do Escritor, 1982, p. 28), o próprio Ribeiro Couto escreveu, no ensaio O pequeno emigrante português e a continuidade histórica do Brasil, enfeixado na obra Sentimento lusitano, que sua mãe era, como ele, natural de Santos, e "representava a confluência de duas famílias de comerciantes portugueses: a do pai oriunda do Minho, a da mãe, da ilha da Madeira" (Sentimento lusitano, São Paulo, Livraria Martins Editora, 1962, p. 32).
2Entre mar e rio, 2ª edição, in Poesias reunidas, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1960, p. 439.
3Idem, loc. cit.
4Meus oito anos, in Barro do Município, São Paulo, Editora Anhembi Limitada, 1956, p. 81. Crônica originalmente publicada no jornal A Manhã, do Rio de Janeiro, a 27/09/1941.
5O primeiro de tais contos foi publicado na obra Largo da Matriz e outras histórias (Rio de Janeiro, Getúlio Costa, Editor, 1940) e os dois últimos no livro Clube das esposas enganadas (Rio de Janeiro, Schmidt, Editor, 1933). Os três contos constam da antologia de contos de Ribeiro Couto organizada por Vasco Mariz e intitulada Maricota, Baianinha e outras mulheres (Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, Topbooks, 2001). Bilu, Carolina e eu foi transcrito, ainda, na antologia Melhores contos: Ribeiro Couto, organizada por Alberto Venancio Filho (São Paulo, Global, 2002).
6Meus oito anos, in Barro do Município, São Paulo, Editora Anhembi Limitada, 1956, p. 82.
7Idem, p. 84.
8Idem, p. 391.
9Posse do mundo, in Barro do Município, cit., pp. 98-99. Crônica originalmente publicada no jornal A Manhã, do Rio de Janeiro, a 11/10/1941.
10Lugares comuns de um admirador brasileiro de Eça de Queiroz, in Sentimento lusitano, cit., p. 97.
11Tal discurso foi transcrito na obra Dois retratos de Manuel Bandeira, de Ribeiro Couto (Rio de Janeiro, Livraria São José, 1960), e, posteriormente, em Três retratos de Manuel Bandeira (Introdução, cronologia e notas de Elvia Bezerra, Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2004), livro que contém, além dos dois textos originais, um outro retrato do poeta pernambucano feito pelo escritor santista.
12O jardim das confidências, 3ª edição, in Poesias reunidas, cit., p. 5.
13Chuva, in O jardim das confidências, cit., p. 7.
14A poesia de Ribeiro Couto, in Vasco MARIZ (coordenador) e Milton TEIXEIRA (organizador), Ribeiro Couto: 30 anos de saudade, Santos, Editora da UNICEB, 1994, p. 189.
15O governador da nostalgia, in Ribeiro Couto: 30 anos de saudade, cit., p. 172.
16Ribeiro Couto: o poeta e o cronista, in Ribeiro Couto: 30 anos de saudade, cit., p. 130. Artigo originalmente publicado no jornal A Manhã, do Rio de Janeiro, a 10/05/1945.
17Poesias reunidas de Ribeiro Couto, in Ribeiro Couto: 30 anos de saudade, cit., p. 164. Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, a 02/11/1960.
18Poesias reunidas de Ribeiro Couto, in Ribeiro Couto: 30 anos de saudade, cit., p. 166. Artigo originalmente publicado no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, a 29/10/1960.
19Poesias reunidas de Ribeiro Couto, in Ribeiro Couto: 30 anos de saudade, cit., p. 162. Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, de São Paulo, 04/02/1961.
20Ribeiro Couto, ainda ausente, cit., p. 108.
21Carta a Ribeiro Couto, in Ribeiro Couto: 30 anos de saudade, cit., p. 154. Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, nas edições de 23 e 24/10/1963.
22O Rio noturno de Ribeiro Couto, in Correio da Manhã, Ano LVIII, nº 20.182, Rio de Janeiro, 10/01/1959, p. 11.
23Poemetos de ternura e de melancolia, 3ª edição, in Poesias reunidas, cit., p. 55.
24Ribeiro Couto, poeta e diplomata, in A Montanha Magnífica (memória sentimental de Campos do Jordão), 2º Volume, São Paulo, O Recado Editora Ltda., 1997, p. 230.
25Ribeiro Couto (discurso proferido na Câmara dos Deputados na sessão de 31 de maio de 1963), Discursos parlamentares (Volume 18 - Plínio Salgado), Seleção e introdução de Gumercindo Rocha Dorea, Brasília, Câmara dos Deputados, 1982, p. 749.
26Canções de amor, 2ª edição, in Poesias reunidas, cit., p.184.