Costurando vidas
Poesia
| Juraci de Faria Condé
A vida nasce sem um fio de roupa.
Indefesa, se abriga no seio da Mãe.
Para seus pés, sapatinhos de lã.
Para suas pernas, coragem.
Para seu peito, armadura.
Para suas mãos, escudo.
Para sua cabeça pulsante, um fio de história.
A vida cresce e desce do colo da Mãe.
Utópica, sonha com viagens em supersônicos.
Para seus pés, Marte.
Para suas pernas, guerra.
Para seu peito, progresso.
Para suas mãos, lucro.
Para sua cabeça neoliberal, um fio de orgulho.
A vida se enruga e curva para beijar o rosto da Mãe.
Semente, se lança no solo de sua árvore genealógica.
Para seus pés, um par de meias-medidas.
Para suas pernas, passos sem pressa.
Para seu peito, memória.
Para suas mãos, rosário de contas.
Para sua cabeça demente, um fio de descostura.
Prêmio Nicholas Marins Prado - 1º Lugar no Festival Poesia Falada 2013 - Aparecida-SP