É triste realmente que um povoado tão favorecido pela natureza se veja pobre e humilhado diante dos outros municípios, e que, tendo proporções para socorrer os vizinhos, se ache forçado a recorrer a êles!
Tendo tôdas as condições favoráveis para exportar muitas centenas de mil arrobas de café, exporta apenas cem mil, tal é a falta de braços produtivos, e sobretudo de sistema e método nos processos de cultura ali empregados!
A sua população compreende talvez 8.000 almas e grande será a nossa admiração quando soubermos que 7.000 delas são consumidoras!
A’ exceção das pessoas mais ilustradas, dos fazendeiros e comerciantes, o resto da população é naturalmente indolente, preguiçosa e alheia a tôdos os regalos da civilização, contentando-se apenas com qualquer meio de subsistência, sem se importar qual será a sua sorte no dia seguinte nem donde lhe virão recursos.
Como a terra é aqui abundante e toca a todos, êsses homens, a quem se chama no lugar caipiras, cultivam a ferro e fogo o torrão que possuem, e plantam-lhe milho, feijão e a arroz. Colhido o seu produto, que sem muito trabalho podem haver, levam-no ao mercado, onde o vendem para comprar a roupa que lhes é necessária durante o ano, e regressam à casa, entregando-se outra vez aos seus hábitos de ociosidade, confiados na fertilidade do solo, que lhes fornece abóboras, aipim, batatas e outros gêneros, bem como das matas, que lhes oferecem palmitos, aves e outras muitas qualidades de caça, assim como nos rio, que os alimentam com muitos, variados e gostos peixes.
Nesta vida, quase completamente improdutiva, vão passando os anos e o tempo sem que se tire partido das grandes vantagens que promete o município, nem se desenvolva nenhum dos elementos de progresso que a natureza tão generosamente lhe confiou, “estando condenados, como observa um morador da vila que nos forneceu estas notas, a ver esvaecerem-se as nossas mais fundadas esperanças, deixando estéril o nosso solo tão fértil, e sem útil aproveitamento os nossos campos tão amenos, os nossos climas tão saudáveis, os nossos rios tão serenos, os nossos sertões tão opulentes e majestosos, tudo por falta de ação, de trabalho e de energia!”
Uma das cousas mais dignas de observar-se nesta localidade são os imensos brejos, a que dão aqui o nome de banhados, e que se estendem em grande distância aos pés da montanha em que está assentada a vila.
A vegetação descorada que nasce à superfície dêstes pantanais dá-lhes um aspecto singular, e parece que estamos em presença de um mar estagnado em perpétua calmaria. Aqui, afirmam-nos existir ainda muitos jacarés, se bem que a natureza do terreno tenda a modificar-se, de dia para dia mais sólido e compacto. Nas partes em que a terra é já firme e consistente gostam muito de pastar os animais, o que dá um realce pitoresco e agradável à monotonia da paisagem.
O município conta muitas lagoas, onde se fazem abundantes pescarias, e é enriquecido por numerosas pontes sôbre os seus mais importantes rios, como sejam o Paraíba, Buquira, Jaguari e outros.
Parece-nos êste um dos pontos da província de S. Paulo que, com tôdas as probabilidades de bom êxito, melhor se poderia aproveitar para a fundação de uma escola normal de agricultura. Nada falta no lugar para cabalmente satisfazer as exigências dum estabelecimento desta natureza.
Fica a idéia. Bom será que um dia alguém a ponha em prática.