Ao som do bronze
Maria de Lourdes Borges Ribeiro
No alto da colina sacrossanta,
a igrejinha da Virgem é um poema.
As tôrres altas, esguias, suplicantes,
são duas mãos que a prece ergue, levanta
à Bondade Suprema.
Ao longe, o gigante azul que dorme,
as árvores, o rio, os campos, o horizonte
são doces rimas de amor e de ternura,
rimas sonoras como o cantar das fontes.
De manhã, quando a madrugada
inda é o sonho dourado do nascente,
quando no ninho, a passarada
acorda, e, de repente,
deixa nos ares a nota de alegria,
das duas torres esguias, suplicantes,
parte o hino de fé:
AVE MARIA!...
O coração do sino
está vibrando de amor a cada instante.
E cada badalada é um verso musicado,
uma prece cantante
que êle faz ao Senhor.
Distante, bem longe, na serra, ressôa
o bronze que canta, suplica e abençôa.
A tardinha,
um bando de formosas andorinhas
vêm à tôrre se aninhar.
E eis que, num momento, se quedam silenciosas,
ornamentando a nave, como em jardins as rosas,
Cessam o canto, o pipilar, o bater de asas.
E algo puro, sublime, encantador,
faz passar nos corações um frémito de amor.
É a voz do sino que reza a última prece,
a derradeira prece do dia que se vai...
E distante, na serra, ressôa a harmonia
do bronze que canta e suplica: AVE MARIA!
Ecos Marianos, 1951. p. 41