Inventei também um jornal mensal da Secretaria da Cultura, que era distribuído gratuitamente de casa em casa por uma fornecedora de gás em bujões. Criei as Domingueiras na Praça, alegrando a nossa praça central na noite dos domingos, dando oportunidade a artistas locais e das cidades vizinhas. Também consegui a criação e o funcionamento do COMPHAC – Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Arquitetônico e Cultural, que assegurou a preservação de espaços públicos e edificações de interesse histórico. A Casa da Cultura esteve franqueada aos produtores culturais, que ali realizaram exposições e conferências.
O LINCE – Por muitos anos o senhor foi Presidente do Instituto de Estudos Valeparaibanos. Conte-nos um pouco dessa experiência e das conquistas mais importantes durante o período em que esteve à frente de tão respeitada instituição.
NELSON – O Instituto de Estudos Valeparaibanos esteve sob minha presidência duas vezes; a primeira por 2 anos, em data bem distante, e depois por mais de 20 anos, até o final de 2011, quando renunciei a mais um ano de mandato, porque senti a necessidade de renovar a direção e as atividades da entidade, que tem cerca de 150 membros, distribuídos por cidades valeparaibanas e capitais dos estados de S. Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Nesse período o IEV programou 25 simpósios de História do Vale do Paraíba, inicialmente a cada dois anos e depois anualmente. Também mantivemos a publicação mensal de um jornal informativo cujo principal objetivo é manter interessados os filiados, que geralmente não conhecem pessoalmente os demais.
Sem receber auxílios oficiais e mantendo-se com as modestas contribuições dos associados, o IEV tem procurado incentivar na região os valores pessoais e de comunidades, com prêmios e destaques significativos. A biblioteca do IEV, que recebeu o nome do prof. José Luís Pasin, fundador e incentivador da instituição, e que está instalada sob convênio na Unisal, em Lorena, tem um conjunto de obras de grande interesse para as cidades e todo o Vale do Paraíba do Sul, incluindo doações do próprio prof. Pasin, do historiador Paulo Pereira dos Reis e de Tom e Tereza Maia. Tem também muitos recortes e documentos e está aberta para consultas dos estudantes em geral.
Representei o IEV em inúmeras atividades, notadamente no Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul, onde fui vice-presidente por dois anos.
Nos últimos três anos, feito Ponto de Cultura, o IEV ministrou, com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado, um curso de Educação Patrimonial e Ambiental para professores das redes municipais de ensino.
O LINCE – Recentemente, o senhor liderou um grupo de escritores, pesquisadores e professores universitários de Lorena para a criação da Academia de Letras de Lorena. Com que propósito? Ou seja, o que significa para uma cidade possuir uma Academia de Letras?
NELSON – De há muito sou membro correspondente da Academia de Letras de Campos do Jordão, agora também da Academia Pindamonhangabense de Letras. Em 2008 fui procurado por amigos interessados na fundação de uma Academia de Letras em Lorena e que pediram o meu apoio. Comecei, então, a trabalhar com esse grupo, reunindo adeptos da idéia e pessoas que tiveram de ser convencidas da utilidade da entidade, que foi, enfim, fundada em março de 2009 e instalada solenemente em agosto desse mesmo ano. Fui eleito presidente na primeira diretoria e dois anos depois fiquei sendo o vice-presidente.
O interessante na existência da Academia é a revelação de valores literários que permaneceram ignorados até então e o desenvolvimento de relações pessoais que de outra forma seriam impossíveis. A Academia está consolidada, felizmente.
O LINCE – Como o senhor vê a relação entre cultura e política e entre cultura e educação?
NELSON – Não vejo incompatibilidade entre tais atividades, mas ressalvo que muito depende do caráter das pessoas. O território da cultura está sempre aberto para quem está interessado na expressão da sua personalidade, separando uma coisa da outra.
Educador pode ser político? Claro que pode, desde que o espaço da vida escolar não seja invadido e deteriorado pela militância partidária. Na versão já clássica, o homem, por não viver solitariamente, é um na “polis”, no conjunto social. Parece-me estranho que alguém negue a condição de político mas abomino a politização intencional da cultura e da educação, que pode criar problemas de toda espécie e de difícil solução. Estive sempre transitando por estes três espaços e me sinto muito bem.
O LINCE – Nelson Pesciotta: intelectual ou ativista cultural? Por quê?
NELSON – Não me vejo como intelectual, pois reconheço minhas limitações de conhecimento e experiência. Tendo mais “inspiração” do que “transpiração”, a sorte me fez mais reconhecido do que mereço. Mas sei avaliar competências e prezar esforços de trabalhadores da inteligência. Posso definir-me como jornalista – uma das minhas inspirações mais gostosas, mesmo pensando na jocosa definição de jornalista: um especialista... em generalidades! Mesmo assim, tenho interesses culturais específicos e já ajudei muita gente a achar o seu rumo e o seu destino. É o que me resta de educador... que fui sem muito querer.
O LINCE – Nelson Pesciotta por Nelson Pesciotta.
NELSON – Olhando no espelho vejo as rugas que me deram os 89 anos de vida ativa e um pouco descontrolada. Trabalhei desesperadamente. Sofri perseguições. Não me firmei religiosamente, nem politicamente, embora às vezes tente ser político (acabo de fracassar na tentativa de me eleger vereador!) Tenho memórias mas não as registro em escritos porque desconfio que não teria leitores. E como meu estilo é cáustico é melhor esquecer certos episódios. Com seis filhos, nove netos e dois bisnetos agradeço a Deus por ter colocado na minha família pessoas boas e sensatas. Tenho amigos, não tantos como quisera, e até alguns admiradores!
Sou uma pessoa sem mágoas ou ressentimentos. Fracassei em alguns projetos de vida, mas não remôo o passado. Se fiz algum bem não cobro o preço e se o mal pratiquei vou receber a conta algum dia. Logo, logo...